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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

No início era o Verbo e o Verbo estava voltado para Deus e o Verbo era Deus. (Jo 1.1)

Uma paráfrase:


A respeito do Verbo, a Sagrada Escritura nos ensina que, embora tivesse a condição divina “esvaziou-se a si mesmo... tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,7). E, enquanto viveu nesta forma humana, ensinou às verdades do Reino que, Ele mesmo, veio estabelecer, o Reino de Deus. Não apenas ensinou, mas também curou, e amou; e as multidões viram nele alguém que podia aliviar suas dores e por isso sempre queriam estar onde ele estava (Mc. 3, 9-10).
Numa dessas ocasiões, que se encontra descrita no Evangelho de Marcos, capítulo quatro e versículos trinta e cinco a quarenta e um; Jesus estava mais uma vez pronunciando seus importantes ensinamentos, dentro, porém, de um barco, a fim de manter aquela boa distância da multidão. E o tempo passou, e logo o entardecer veio sobre suas azas.
Jesus então, chamou os seus discípulos para passarem ao outro lado da margem e, naquele mesmo barco em que Jesus se achava, lançaram-se ao empreendimento e a viagem, de repente, se transformou numa daquelas situações de quase morte.
Uma tempestade se lançou sobre os viajantes e tão violenta era que a embarcação já se enchia de água. Não sei quanto a você, leitor, mas pessoalmente eu ficaria não menos que amedrontado em tal situação. Certa vez eu fui para o Rio Araguaia junto a meu pai e meus parentes paternos e, era minha primeira vez, bem como era minha primeira vez em um barco e eu fiquei aterrorizado, com medo de que o barco virasse, isto aconteceu num dia calmo em que o sol brilhava e ainda por cima sobre um rio, nem penso como seria minha reação em meio a uma tempestade sobre o furioso mar. No entanto, a reação daquele homem que não se cansa de nos surpreender, Jesus, foi de simplesmente dormir sobre uma almofada.
Os discípulo, no entanto, tiveram uma reação que talvez se parecesse mais com a minha, ficaram amedrontados e acordaram o mestre, indagando: “Você não se incomoda se o barco virar e nós morrermos?” Desperto então, o Bom Mestre, dirigiu-se ao vento e o mar ordenando-lhes que se aquietassem, e houve bonança.
Acalmada aquela tempestade, Jesus suscita outra dentro de seus discípulos, através de um questionamento profundo: “Por que estais tão amedrontados? Não tendes fé?” E no entanto dentro do coração daqueles homens as ondas se agitavam sobre a forte rajada de um vento que se traduzia assim: “Quem é este, para que até o vento e o mar lhe obedeçam?”

Entendendo o texto:

Ora, para compreendermos a mensagem que Marcos quer nos passar através deste relato é fundamental que observemos as perguntas que são feitas aqui, tanto dos discípulos a Cristo quanto deste a aqueles.
Comecemos por aquela que foi feita por Cristo: “Por que estais tão medrosos? Não tendes fé?”. Para entendermos esta pergunta e a relação entre estar amedrontado e não ter fé é necessário que compreendamos os termos. Creio que sabemos bem oque é estar amedrontado, portanto, irei direto para “não tendes fé?” e proporei a seguinte pergunta: “O que é fé e o que significa tê-la?”
Aqui, fé é o mesmo que confiança, ter fé, portanto significa confiar e confiar é entrega-se nas mãos de outrem confiando naquilo que ele fará será bom. Temos fé por exemplo, todas as vezes que subimos num ônibus, confiamos que o motorista conduzirá bem e que nos levará ao lugar que almejamos ir; temos fé quanto nos submetemos a um processo cirúrgico, confiamos que o médico será competente e que nos levantaremos dali e nos encontraremos então com as pessoas que amamos. Daqui podemos partir então para um novo olhar sobre a pergunta de Jesus, e parafraseá-la da seguinte maneira: “Porque vocês estão com medo? Não confiam em mim e que o poder do Pai age por meu intermédio?” Uma pergunta que não era para ser respondida, é uma daquelas “perguntas retóricas”, a resposta ficou clara pela atitude dos discípulos, era: Não. Ao invés de confiar, deixaram que a ansiedade tomasse conta de seus corações.
A pergunta: ”Quem é este...?” nos confirma que não havia fé em Cristo por parte daqueles que o acompanhavam. E por que não confiavam nele? Porque nem sequer o conheciam de fato, não haviam compreendido quem de fato estava sentado ali no barco, o restante da frase “... para que até o vento e o mar lhe obedeçam?” mostra que não se esperava que acontecesse o que eles viram, o vento e o mar lhe obedecerem. E ai, aquela outra indagação que também ocorre no texto: “não te importa que pereçamos?” deixa de ser um equivalente a um pedido de socorro e passa a revelar certo tom de indignação, como se por exemplo ao receber a notícia da morte de alguém muito próximo e importante para você ao invés de chorar ficasse como estava antes da notícia, e então alguém chega para você e pergunta: “Não se importa que ele tenha nos deixado?”
Se, no entanto pudessem entender que aquele que dormia era o próprio Filho de Deus, então sua atitude seria diferente, seria assim como a daquele salmista que por entender quem estava como ele no barco, orou assim:

“O Senhor é meu pastor,
nada me falta.
Ele me faz deitar em verdes pastagens;
Às águas do repouso me conduz,
Ele me reanima.
Pelos bons caminho me conduz,
para a honra do seu nome.
Mesmo se eu andar por um vale de sombra e de morte,
não receio mal algum, pois tu estás comigo:
teu bastão e teu cajado me dão segurança.
Diante de mim fazes servir uma mesa,
em faace dos meus adversários .
Perfumas a minha cabeça com o óleo,
Minha taça é inebriante.
Sim, felicidade e fidelidade me acompanham
todos os dias da minha vida,
e retornarei à casa do Senhor,
para longos dias.” ( Sl. 23 TEB- Tradução Ecumênica da Bíblia)


E nós...

Muitas vezes o vento vem contra o nosso barco, e ai balança e parece que vai afundar. Como reagimos então diante desta situação? Como os discípulos que se desesperaram? Neste caso a pergunta de Jesus também deve servir a nós: “Porque não tendes fé?” e ai, precisamos encarar os fatos e refletir seriamente se conhecemos de fato quem é aquele que esta no barco conosco.
Podemos até alegar que sim, sabemos quem ele é que é o Filho de Deus, o Verbo Encarnado, lemos isto na igreja, na escola dominical nos foi ensinado... Todavia há uma diferença entre conhecer informações sobre alguém e de fato conhecer este alguém. Por exemplo, se pegassem uma lista de detalhes sobre você que fala da cor de sua pele, de seus olhos, e cabelo e estatura, fala ainda de sua personalidade e nome; e a entregassem a uma pessoa que nunca te viu, ela ficaria informada de suas características e até de que você provavelmente existe, mas não poderia alegar ainda que te conhece, apenas que conhece coisas sobre você. No entanto, se ela acreditar naquela informações sobre você e te procurar então vocês se encontrarão e ela de fato poderá dizer que te conhece e agora poderá perceber que aquelas informações sobre você estavam corretas e até abaixo da realidade, então ela poderá confiar de fato em quem é você.
A mensagem que nos é apresentada na igreja são apenas informações sobre Cristo, sobre Deus, e apenas de ouvi-las não poderemos dizer que de fato O conhecemos. Todavia se dermos crédito à pregação, e decidirmos ir até Cristo, então O encontraremos e ao percebermos quem Ele É nos sentiremos à vontade para confiarmos nossas vidas a ele, e então já não nos comportaremos como os discípulos mas como o salmista, e ao invés de nos incomodarmos quando o mestre dormir e parecer que não se importa conosco nos sentiremos seguros para ao lado dele também dormirmos, aprenderemos a descansar sobre os cuidados do nosso Bom Pastor.

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