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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cartas à Senhora Solidão: 1ª Carta


Meu objetivo com estas postagens que vão se seguir, das Cartas à Senhora Solidão, é investigar, primeiramente a partir da minha própria experiência, e na medida do possível vou procurar outras bases também. Mas a prioridade é o que eu acho, o como eu defino. Portanto, não leve muito a sério o que escrevo. A não ser que depois de longa reflexão você acredite que eu esteja certo e depois de comparar estas informações totalmente alienadas de posições de psicólogos ou até mesmo teólogos, com a de profissionais: chegue à tua conclusão mais segura sem permitir que os mitos, quer seja de “blogueiros”, de religiosos ou cientistas, subjugue a sua subjetividade. Seja livre, pense, fique em crise e escolha. Mas, sem delongas, quero ir logo à primeira carta. E como gastei algumas linhas escrevendo esta introdução, irei avançar algumas outras mais para compensar. Se estiveres ocupado por agora e não puderes ler tanto, leia de pouco em pouco, ou então, na mais triste das opções, não leia. Publicam muita bobagem hoje em dia, esta é mais uma.




            Senhora Solidão,


            Escrevo porque preciso dizer-te algo que está ao fundo do meu coração. E na verdade, não é um mero falar. Preciso mesmo dialogar, refletir a dois ou a sós, sobre a nossa relação. Sei que estamos muito próximos um do outro e que a Senhora quase sempre vem me ver. Podes imaginar então que seria mais prático dizer-te em palavras audíveis logo de uma vez: O que é prático nem sempre funciona, conforta ou orienta. Aliás, quase nunca! Porque se desejamos encontrar respostas devemos abominar o prático, porque uma resposta pode mudar tudo: Em que acreditaremos? Não digo com isto que a verdade seja simples ou complexa (não quero entrar no assunto), apenas que a busca por ela não é. Facilmente encontramos a mentira e nela nos detemos, e para que não morramos nesta areia movediça sem nos darmos conta é necessário sempre de novo verificarmos onde estamos pisando. A verificação da realidade, da verdade, é então metódica, sempre deve ocorrer de novo, e nunca sendo confiante nas aparência: o que parecia chão pode afundar!
        

    Então, escrever será como este exercício de olhar de novo o chão, isto é, o fundamento das nossas crenças: é verificar então o “O que é?” e o “Porque é?”, procurar o “O que é” significa pisar sobre determinado lugar, mas verificar o “Porque é?” significa verificar bem se este chão é o suficiente para nos dar segurança ou se é falso: Claro que este próprio “o que é?” já foi antecedido por um “porque é?”. Ninguém deveria dar um passo sem saber por que o faz. Mas, uma vez feito, não pode descansar em verificar sempre outra vez se este passo está mesmo seguro.
            O objetivo de tantas palavras é apenas um: escrevo para refletir contigo, ou a sós, sobre quem és tu ó Solidão! De onde viestes? Como me encontrastes? Tu és minha benfeitora ou a pior das companhias?
            Eu gostaria de começar por recordar um pouco o desde quando nos conhecemos. Enfim, não posso garantir quando exatamente, porque é afinal de contas, desde que me entendo por gente. E antes disto? Não sabia de nada, portanto tu não existias. Mas, na minha infância, hoje eu sei, já estava sobre a tua tutela. Embora não soubesse muito sobre ti. Portanto, não te oferecia grande resistência, e eras pedófila, porque eu era apenas um garoto. Tu me conduzias pelos corredores da escola durante os intervalos, éramos eu e tu, ou apenas, eu.
            Eu cresci um pouco, já na adolescência. Já tinha alguma ciência do teu assédio, já sabia quem eras tu que sempre me acompanhava. E nesta fase eu não aguentava o teu assédio, queria fugir, mas não sabia como fazer. No caminho da escola me desviavas, sentávamos à praça, esperávamos. Regressávamos à casa da minha mãe: “A aula acabou mais cedo”, claro que ela não acreditava, mas também não sabia o que fazer. Entravamos no quarto, eu me deitava, e tu lá, comigo, e sobre o cobertor me esfriavas. Por este período eu até descobri que amigos poderiam me livrar de ti, encontrei alguns, dos bons. Mas, todos se vão: és tu a governanta desta capital do Brasil? Será que foi tua trama que fez isto?
            Passei muito tempo, entre te deixar ou não. É que tu és uma mulher muitíssimo estranha. Teu vestido branco, tua palidez, teus cabelos negros, teu ar de calma. De paciência, como o de que nunca irá embora. Tens um abraço, que é tua grande arma, confortável e gelado. Primeiro, o ser humano não te suporta e depois, é como se, mesmo não te suportando, posto que fogo sempre ira queimar, não quisesse outra coisa.
            Tu és tão impertinente, quando estou entre amigos ou parentes, não és capaz de deixar-me a vontade nem mesmo um segundo! Estás lá, gritando agudamente em meus ouvidos, meu coração sangra. E tu, és a única que vê a ferida e a mesma que me socorre: tu sopras, e ali, congela, o sangue estanca, mas congela toda a minha alma. Congelado no meio da multidão, és irresistível, ó Solidão!
            A imaginação, lá sim eu consigo me refugiar. Miragens, nada pior para aquele que está sedento ao deserto, do que ver água e então mergulhar numa desilusão. Não poder saciar-se. Solidão, eu sonho, e nestes sonhos eu penso em me livrar de ti. Não te zangues, é por isto que eu quero dialogar: quero saber o que é mais correto ao homem fazer, em sua curta duração sobre a terra: Entrego-me a ti ou te deixo? É possível deixar-te? Para onde irei de ti? É possível felicidade contigo ou devo fugir para encontrar?

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