Viver ou Sonhar?
Não poucas pessoas em nossos tempos sonham mais do que vivem, porque ao invés de serem felizes no hoje, no agora, com aquilo que têm, postergam a felicidade para um dia, para o dia da felicidade, em que terão isto, aquilo, e assim acabam deixando de também viver durante toda a sua vida.
Um dos motivos que levam o ser humano a postergar a vida é algo que já de longa data ilude a humanidade: “O ter”. As pessoas colocam o motivo de sua alegria, de seu prazer naquilo possuem, ou naquilo que não possuem e querem possuir, o problema da felicidade buscada assim, porém, é que nunca satisfaz quem a busca.
Diz um trecho de Eclesiastes que quem ama o dinheiro jamais ficará satisfeito, e em outro lugar das Escrituras, em Provérbios, é dito que: “A sanguessuga tem duas filhas, a saber: dá e dá”. Ou seja, estes trechos nos ensinam que a ambição humana não tem fim, o desejo de ter nunca se basta, porque quanto mais se tem mais se quer ter, e isto acontece porque a princípio o ter é prazeroso, mas logo o objeto conquistado torna-se uma monotonia amais da vida que remete outra vez ao tédio, o remédio então é ter novamente, ter outra coisa, mas o ciclo se repetirá e o que se tem é na verdade um ciclo vicioso. O ser humano fica preso então na expectativa de um dia ter, um dia, ser feliz, um dia, viver.
Contemporaneamente, o potencial da ambição humana é explorado pelo Marketing, as propagandas que incitam as pessoas a comprarem coisas para que então possam ter suas vidas completas, para que possam então ser felizes. O problema é que a maioria da população não pode ter muito do que é oferecido, resta-lhes então o sonho, de um dia ter, a vida então se torna um ideal, deixa de ser real, porque o ter, quando tiver, será em fim aquela vida ideal. Contudo, com já falamos em outras palavras, nunca se terá o suficiente para ser feliz.
Isto leva as pessoas a já não amarem o que são, mas amarem aquilo que os garotos e as garotas propagandas são: belos e felizes. As pessoas lutam então contra seu atual estado acreditando que o ter vai de alguma forma vai alterar sua essência. Isto fica claro quando um jovem ao invés de dizer: “Quero ter bastante dinheiro”, diz: “Eu quero ser milionário”, a diferença sutil está em que no segundo caso o que se expressa não é meramente o desejo de ter, mas de ser. E porque ser aquilo e não o que já se é? Porque imagina-ser a felicidade na forma de ser “milionário” porque ele pode ter tudo o que quer.
E neste contexto é que viver se torna algo indesejável, perigoso, porque é decepcionante, a vida como é está inaceitável, precisa ser moldada conforme os sonhos. O problema, porém, é que o ideal jamais ocorrerá. E neste contexto então o necessário é aceitar a vida como ela é, e aprender a ver a felicidade nos cantos aonde antes se pensava que ela não estava, é necessário aprender a ver a felicidade mesmo no pouco. É claro, isto é difícil, mas sendo infelizes no pouco no muito não estaremos melhores. É necessário sermos felizes por aquilo que somos ao invés de por aquilo que temos, e na verdade, só teremos condições de encontrarmos felicidade em quem somos, quando enfim estivermos em Cristo.
O seu sangue vai cobrir nossas deficiências, e quando olharmos para aquilo que somos seremos então capazes de vermos Cristo, Jesus Cristo em nós, e dia após dia, seu rosto resplandece sobre o nosso, sim, o homem que está em Cristo é capaz de ser feliz com aquilo que é, e de amar aquilo que é, e de viver a realidade. Porque a motivação da felicidade não é algo instável como o ter, mas a presença de Cristo em nós, e esta nunca nos abandonará, esta é que se torna a realidade. Em Cristo somos capazes de sonhar, com bens matérias, e até mesmo, com um dia melhor, mas de forma equilibrada, o presente, a realidade, logo se torna algo desejável para nós, porque ai é que Ele se relaciona conosco, mostrando o cuidado, revelando o seu amor, e nos tornando à sua imagem e semelhança dia após dia. Jesus Cristo nos torna capazes de viver e sonhar.
Edgar Parreira França.
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