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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Os Espaços e a Lei



 

Vivemos em um mundo formado da matéria. Matéria esta que é finita, ou seja, possui início e fim. E tudo aquilo que possua início e fim, na verdade, carece de seu espaço. Pois, como é sabido, temos da Física que dois corpos não podem ocupar simultaneamente o mesmo espaço, para que um esteja é necessário que o outro se retire. Se não obedecerem à regra certamente não poderão coexistir integramente, tudo será reduzido a lei do mais forte. Se uma bigorna e um copo de vidro quiserem competir espaço então está óbvio o desfecho: o copo se quebrará, haverá prejuízos e danos, isto livrará então o mundo da bela utilidade de um copo. O próprio ser humano também é matéria, ocupa seu lugar no espaço e, literalmente, também precisa atentar à regra da Física, os espaços alheios precisam ser observados e respeitados para que não haja o prejuízo ao mundo. E para o bem destes espaços é que temos as leis.

É necessário que o outro ser humano tenha espaço para viver, sem que ninguém lhe usurpe tal direito. O mesmo ocorre em relação ao espaço para morar, para se alimentar, e para beber. Ter uma vida digna e liberdade. A lei não consegue impedir que estes espaços sejam violados. No entanto, em seu enunciado, no "não matarás", a lei lembra o ser humano de que este tem de respeitar a vida alheia.

Caso importante é o de Gênesis 1-3, já sabemos a história, no princípio criou Deus todas as coisas e inclusive o ser humano. Este foi posto em um jardim do qual poderia comer de quase todas as frutas, exceto da que se denominava "árvore do bem e do mal", tal era a ordem de Deus, ela colocava ao ser humano a responsabilidade de não desrespeitar o espaço do Criador, que é espaço para reinar, governar e ditar as regras pelas quais o ser humano deveria viver. Contudo, na tentação da "criatividade", isto é, de criar sozinho sem seguir o plano original, o ser humano usurpou a posição de Deus e a consequência disto foi à morte.

A consequência de se violar espaços é sempre a morte, se não física, pode ser relacional: no caso de Adão e Eva implicaram ambas as mortes, isto é, romperam o seu relacionamento com Deus, consigo mesmos e contraíram ainda a morte física. Ora, a lei de Deus não lhes impunha falta de liberdade, antes lhes garantia os seus próprios espaços, nos quais eles poderiam ter vida. Contudo, da liberdade galgaram a libertinagem e no fim perdeu-se a volição plena, porque morrer significa a perda do fundamental: o espaço para viver.

Agora, sem a lei, a vida se tornou uma competição pela mera e vazia existência, onde o mais forte é quem ganha. Isto fica claro em dois atos do texto, o primeiro é quando o homem e a mulher se percebem nus e se escondem um do outro. E na verdade a nudez aqui não é literal, mas representa a fraqueza do ser humano. Adão e Eva perceberam as fraquezas um do outro e precisaram escondê-las. O segundo ato é quando o próprio Deus torna-se uma ameaça, isto é, quando ainda baseados em sua nudez o homem e a mulher se escondem do Criador, porque ao se perceberem fracos se perceberam intimidados. Agora o ser humano criado tem de ter medo de tudo e todos, porque, senão, alguém poderia atacar e roubar o seu espaço, assim como eles roubaram o de Deus. Enfim, os traidores passam a vida com medo de serem traídos, porque, só conseguem ler o mundo a sua volta a partir de seus próprios vícios. Quando o Senhor percebe que se descobriram nus, ou seja, fracos, não precisou ouvir nem sequer uma palavra mais, sabia o que tinha ocorrido, escolheram abandonar a Lei.

Portanto na sociedade é necessário que se estabeleçam leis, com o intuito não de privar qualquer cidadão da liberdade, não para proibi-lo de poder tomar decisões sobre os seus atos, mas, com o fim de limitar suas decisões, para que possa decidir. Também não implica em meramente limitar a sua "criatividade" – isto é, a observação de novas maneiras de viver – mas antes, vem lhe dizer o que não deve mudar ou recriar, para que possa continuar inovando. Porque a lei, ao proteger seu espaço, seu direito a vida, lhe proporcionará o direito de ser livremente criativo. Cada um estar livre para fazer o que quer, significa estar livre para fazer, inclusive, como quiser, mesmo que viole os espaços significa na verdade por em  risco a sua própria liberdade..

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