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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Tiago 2, 1-10

O vestibular de uma universidade federal, nada é, senão uma forma de separar os bons dos ruins, aqueles que realmente merecem daqueles que não. Ao entregarmos nosso currículo, nada estamos fazendo além de mostrarmos as vantagens, e também desvantagens, que há em nos contratar, e então haverá uma comparação entre vários outros e aí, quem sabe, somos selecionados para uma entrevista, tudo isto para verificarem se estamos aptos a exercer o trabalho, se realmente temos algo a oferecer para aquela empresa.

De forma que, na sociedade, somos avaliados pelo critério da vantagem. Há alguma vantagem que possamos oferecer? A quem nos contrate, à universidade em que estudaremos? Ao grupo ao qual queremos integrar? Somos avaliados ainda como qualquer objeto exposto numa feira, somos pesados, medidos, etc. E enfim, vem o veredicto. Se formos capazes, se mostramos inteligência, força, resistência, as portas que almejamos se abrirão, as pessoas terão prazer em trabalhar conosco, pois, o nosso sucesso significa o sucesso delas, e é isto que interessa.

Talvez, este comportamento não seja condenável, a nível profissional. Quero dizer, é duro admitir numa federal um cara que nem se esforça realmente para isto, que, aliás, não vai ter capacidade de se desenvolver no curso, ai a seleção faz sentido. Também faz sentido que antes de contratar alguém, que haja uma seleção, isto é justo, assim aqueles que também não se esforçam, que não merecem, correm o risco de ficarem desmascarados. Aliás, sem isto, corremos um risco ainda maior de sermos examinados por médicos despreparados, ou de sermos salvos por bombeiros que não sabem aplicar os primeiros socorros. Até mesmo para ser pastor, ou missionário, há este tipo de seleção, que a Bíblia diz que deve ocorrer.

Mas o problema é quando uso a ótica da vantagem em todos os graus de meu relacionamento com meu próximo. É terrível quando, para nos tornarmos amigos, aplicamos os critérios do mercado. É detestável quando apenas nos aproximamos de pessoas que podem nos oferecer algo.

É isto que o nosso autor Sagrado está condenando. As informações sobre a epístola de Tiago são bem escassas, de forma que, não podemos entender muito bem o contexto, mas, pelas informações do próximo texto fica nítido que estava ocorrendo uma segregação na igreja, uma separação. E nisto, aos ricos, estava sendo destinado o lugar de honra, enquanto que ao pobre a humilhação, estava acontecendo ai de a dignidade do pobre estar sendo negada.

Podemos imaginar o porquê de alguém fazer isto, ainda em nossos dias há pessoas deste tipo, o evento ainda se repete em nossos dias. Faziam isto porque não viam no pobre alguém que lhes pudesse oferecer qualquer vantagem, aliás, o pobre não oferece outra coisa senão prejuízo, porque ele precisa de ajuda, muitas vezes para se alimentar, para se vestir, para poder vir à igreja. Mas justamente no caso oposto, o rico não é assim, antes, oferece aparente vantagem ao pobre. Ah! Ter um amigo riquinho é massa "né"? Ele pode pagar coisas para você, vai te inserir em meios muito legais, festas. Ir à casa do rico, muito melhor que na do pobre, lá no pobre você faz o que? Fica conversando ou então, quem sabe, assistindo televisão, filme em canal aberto, ou vamos a internet, na "lan house" ou então naquele computador lento que nem uma carroça. É possível que o amigo rico te pague um lanche, ou sei lá, mas se você sair com o pobre... Eu mesmo, quando morava em Brasília, eu tinha um amigo, o Lucas, no fim de semana agente juntava, comprava duas ou quatro tranças salgadas, comprávamos uma coca, e íamos comer na praça, enfim, pobre além de comer coisas mais baratas tem que pagar o mico de parecer estar tendo um encontro com aquele cara.

Mas então, voltando à Bíblia, estava ocorrendo então de que, quando pesavam as vantagens e desvantagens da relação com o rico e com o pobre, o pobre como sempre saia perdendo, porque preferiam aquele ao invés deste. Acontecia então de avaliarem o pobre como alguém indigno, como alguém sem condições de estar a mesmo nível do rico.

Será que ainda hoje isto ocorre? Por um lado podemos perguntar se ocorre exatamente como aconteceu lá, na época de Tiago, e é surpreendente saber que sim, ainda ocorre. Quando fui ao Rio de Janeiro, com o grupo da Missão Horizontes- uma agência missionária que por algum tempo eu integrei- ficamos numa igreja que embora situada num bairro nobre ficasse bem ao lado de uma favela da qual alguns moradores freqüentavam aquela igreja em que estávamos, foi surpreendente saber que eles eram discriminados, se sentiam rejeitados na comunidade, colocados de lado, justamente por aqueles irmãos que compunham a maior parte da Igreja e que na verdade eram justamente da classe média e média alta. Eu ouvi desabafos chorosos de irmãos que sonhavam com a visita do grupo de oração, que até marcavam a data para ir, mas justamente neste dia todos faltavam. Eu não sei como isto funciona aqui na MEUC, não conheço muito afundo a relação entre vocês, mas, se ocorre isto, de alguém desprezar um irmão em detrimento do outro por questões financeiras, então quero pedir a este que ouça bem este sermão!

Mas nem sempre as condições financeiras são o critério, às vezes há o critério da personalidade, aquele papo de "O meu santo não bate com o dele", é quando nos desprezamos por acharmos o irmão chato, por pensar que ele é irritante demais para se relacionar comigo, quero dizer, a desvantagem que ele me oferece nesta relação, de gastar o meu carisma a toa, não vale apena. Ou então, é que ele não curte as mesmas coisas que eu, quero dizer, não rola papo, eu só me relaciono com quem gosta de tudo que eu gosto, porque somente alguém com os mesmos gostos que eu é que é digno de mim. Ou então, como já me disseram, eu me relaciono com o fulano porque ele parece ser inteligente, no fundo, talvez, a pessoa quisesse dizer: "Inteligente como eu." E enfim, nos nossos dias as pessoas estão "coisificadas" a todos os níveis, de forma que, escolhemos nossas companhias como escolhemos uma máquina, ou um objeto qualquer exposto numa vitrine.

Não deve ser assim para o cristão, para aquele que diz ter fé em Jesus Cristo. Quando fazemos assim estamos julgando com base em maus critérios, com maus pensamentos, ou como diz certa versão: "com juiz criminosos", isto significa que, quando estamos julgando assim estamos aplicando um principio que é contrario à lei, e que lei: Contra a Lei do Reino que é o amor. E isto significa não pequeno problema. Porque, se vamos contra a Lei do reino, significa que estamos fazendo a nossa própria, que estamos assim nos tornando mais do que meramente Juízes, mas também legisladores, mas há apenas um legislador e juiz entre nós, é Jesus Cristo e ele legislou o amor, qualquer um que queira se colocar como um juiz e legislar se põe como um anticristo, como alguém que se pretende colocar no lugar do próprio Deus, porque "anti" significa contra ou no lugar de.

Quando nos reunimos em sua casa, aqui encontramos aqueles que foram chamados por Deus para agregarem o corpo de Cristo, aqui estão os eleitos do Senhor, ele nos chamou e nos amou, lavou os nossos pecados, nós somos nascidos dele, foi o Senhor que nos achou especiais, foi ele mesmo que nos acolheu. E que grande lucro nos poderíamos lhe oferecer? Ao Senhor do Universo? Como podemos compensar um ser infinito que de nata tem falta? Mas mesmo assim ele nos amou na nossa miséria nos amou, e tanto amou que deu o seu Único Filho para morrer por nós.

Então, embora não tivéssemos nada a oferecer mesmo assim fomos acolhidos, e é neste amor que devemos nos inspirar para receber nosso irmão, o critério dos nossos relacionamentos não deve ser aquilo que podemos ou não receber, mas pelo contrário, aquilo que já recebemos:


 

1 Jo. 4, 10-12, 19: "Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados 11 Amados, visto que Deus assim nos amou, nós também devemos amar uns aos outros."

19: "Nós amamos porque ele nos amou primeiro."


 

Ou seja, o critério não é quanto tem o nosso irmão, se ele é legal ou bonito, se fede ou cheira bem, se tem um "sorriso Colgate" ou não, se mora numa mansão ou num barraco, se é bom nisto ou naquilo, se sabe isto ou aquilo, não, não é nada nas pessoas aqui que nos deve fazer amá-las, mas, o fato de que Deus nos amou, isto, acima de tudo, deve nos fazer amar o nosso próximo. A carta está falando de uma situação que ocorre dentro da igreja, mas também fora destas paredes devemos nos portar assim, porque Deus nos ama também o tempo inteiro e não apenas quando aqui estamos, desta mesma forma devemos amar a todo o tempo.

Sei que há um desafio, que não é o nosso próximo, mas nós mesmos, o nosso orgulho de acharmos que somos aptos a definir quem merece e quem não, mas meus irmãos, devemos nos prostrar diante de Deus, precisamos reconhecer diante dele a nossa prepotência, nossa arrogância, se assim fizermos, então ele agirá em nós, o seu Santo Espírito nos ensinara a amar.

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