Como Provar?

Naquele dia, resolvi voltar. Como poderia deixá-los vivendo daquela maneira: tão limitados, pensando que estavam diante de toda a realidade, presos ali, virados para a parede, observando sempre as sombras passar? Eu estava decidido e contar a verdade e assim, meu anseio era de que pudessem sair da escuridão e vir comigo para fora.

Quando entrei na caverna não pude deixar de reparar que tudo estava como sempre, e eles ainda lá, sentados, virados para a parede. Com muito entusiasmo então eu ergui minha voz: " Ouçam amigos! Trago para vocês uma Mensagem que vos libertará, é que o mundo em que vocês vivem e no qual, por algum tempo, eu também vivi é uma falsidade, mera projeção de sombras, a realidade, eu descobri, está além disto, e como eu vocês podem se libertar, virem-se para o outro lado e vejam a Verdade."

Terminei o discurso crendo que me dariam credito e olhariam. Como estava ansioso! Mas então, fui surpreendido: "Prove-nos -disseram- que o que dizes é verdade, a nós parece ser loucura. Como você pode garantir que existe uma realidade arás de nós?" Respondi: "Vejam: Com esta flor que eu colhi lá fora". Nem assim creram: “E quem nos garante que isto é mesmo algo que veio lá de fora, se é que o "lá fora" existe? E se você apenas forjou este objeto estranho para nos enganar?

Naquele momento eu fiquei perdido, não sabia mais o que dizer, tinha certeza de uma verdade que eu não podia provar e por um pouco o argumento daqueles não me levou, tive de olhar para a saída mais uma vez para lembrar-me da minha fé... Minha fé! Era tudo que eu tinha, e era tão somente a ela que poderia recorrer para testemunhar. Então, implorei: "Não posso dar nenhuma prova concreta a vocês de que de fato existe um "lá fora", só posso lhes dizer que existe." A resposta logo veio: "Como poderemos depositar nossa fé em algo que não pode ser provado? Somente creremos naquilo que vemos, antes disto, não. Portanto, se você não pode realmente provar o que diz, cale-se, porque não engoliremos esta fábula infantil!"

Não podia, contudo, desistir deles: "Creiam, existe o mundo verdadeiro, lá fora, apenas tenham fé e a Verdade se esclarecerá para vocês, ela se Revelará e ficará óbvio que não há outra." Mas então, alguns deles se levantaram, vieram em minha direção e me espancaram e me ordenaram que me calasse. Eu insisti, e mais uma voz ergui a voz em nome da verdade, mas, desta vez, me mataram.

Eles poderiam ter tido fé, e então, estariam libertos, mas, não quiseram crer, e agora ainda estão lá dentro daquilo que pensam ser realidade.

Edgar Parreira França